O bom lombo da Fazenda Mumba

Um dos grandes handicaps de Angola, no que toca não só à sua auto-suficiência alimentar, como também à sua indústria de restauração e, quiçá, do turismo, é a ausência de fazendas de qualidade. Infelizmente, apesar do seu grande potencial agropecuário, e apesar da quantidade de terra arável no país, Angola ainda importa grandes quantidades daquilo que consome.

Quase toda a carne bovina que consumimos é importada de países como Brasil, Argentina e África do Sul; grande parte do porco e frango também. Apesar de alguns avanços nesta área, é notório nos supermercados locais o peso que os alimentos importados têm. Esta “veia importadora” reflecte-se não só no dia-a-dia do cidadão, mas também nos custos dos restaurantes e nos preços neles praticados. Falamos não só de restaurantes, digamos, independentes, mas também daqueles afectos aos hotéis e resorts espalhados pelo país.

Refeições caras em restaurantes caros, em hotéis caros, impactam o preço final que o turista paga, seja ele nacional ou estrangeiro, e acaba por encarecer, e de que maneira, o turismo em Angola.

Perante este cenário, é sempre uma excelente notícia vermos o desenvolvimento de uma fazenda vocacionada para a venda interna e o abastecimento da restauração local. Falamos, concretamente, da Fazenda Mumba, detida pela Omatapalo e localizada a uns 45 km da vila do Cuvango, perto da fronteira entre a Huíla e o Cuando Cubango. Conta com 43.000 hectares, 20.000 dos quais já em plena utilização, 8.000 cabeças de gado, e emprega por volta de 700 pessoas. É, por isso, uma das maiores fazendas do seu tipo em Angola.

A primeira vez que ouvimos falar na Fazenda Mumba foi em 2022, por altura da Expo-Huíla; lemos uma notícia que dava conta de que a fazenda tinha, naltura, “à disposição da restauração nacional cerca de 100 toneladas de carne bovina”. E mais: que a carne era criada em regime extensivo, “com pastagem permanente e em confinamento uma centena de dias antes do abate, de forma a melhorar a qualidade do produto.” Segundo o director Comercial da empresa, Nelson Gabriel, citado na notícia do ano passado, “neste período, a alimentação do animal é feita à base de ração concentrada e desenvolvida com cereais produzidos pela própria fazenda.”

Para qualquer apreciador de carne, e apesar de os gostos não se discutirem, este nível de cuidado com a criação de gado, incluindo o confinamento e alimentação à base de cereais durante os últimos 100 dias da vida do animal, tem impacto directo no nível de gordura, maciez e sabor da carne. São características que, normalmente, não vemos na carne produzida cá.

Cerca de um ano depois, em Abril de 2023, tomamos conhecimento que a Fazenda Mumba abriu um talho no Lubango, focado na venda de carne bovina, suína, aves e de caprinos; lemos que, brevemente, a empresa abrirá um talho idêntico em Luanda.

A nossa primeira experiência de degustação da carne produzida no município do Cuvango ocorreu agora, em plena FILDA, num show cooking promovido pela Mumba com a conhecida chef Elizabeth Martins, cujas receitas temos divulgado inúmeras vezes nas nossas páginas.

Neste show cooking, a chef Elizabeth preparou para os presentes um Bife Wellington feito com lombo proveniente da Fazenda e servido com outro produto nacional, o vinho do Vale do Bero (do Namibe). Ficámos surpreendido com a maciez, a ternura e o sabor da carne. É certo que a chef Elizabeth é excelente naquilo que faz, mas confeccionar um Bife Wellington tão saboroso no meio de uma feira, utilizando apenas um forno e fogão móvel, é também um testamento da qualidade da carne utilizada. Foi servida médio/mal-passada, que para nós é um ponto certo.

Este prato em si é uma das melhores formas de comer o lombo, visto ser uma carne magra, sem gordura e não dada a muitas formas de confecção; temos a certeza de que o lombo da Fazenda Mumba tem a qualidade necessária para a fazermos bife tártaro, uma das nossas formas preferidas de apreciar um excelente lombo. O tártaro é servido cru, finamente picado com uma faca bem afiada e misturado com vários condimentos, incluindo alcaparras, cebola picada, molho inglês, mostarda, sal, pimenta grossa, e uma gema crua de ovo por cima. Enfim, coisas que nos dão água na boca.

Por fim, importa realçar que, para além da produção de carne, a Fazenda Mumba conta com mais três linhas de acção, nomeadamente a produção integrada de cereais (milho, soja, trigo e feijão), produção de fruticultura (abacate, manga e maracujá) e a silvicultura. Para breve está a abertura do Hotel da Mumba…

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