Por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ocorrido recentemente em Lisboa, surgiu a notícia que alguns peregrinos angolanos e cabo-verdianos tenham supostamente decidido não regressar aos seus países de origem; o nosso cartunista preferido, Sérgio Piçarra, bem a seu jeito, não perdeu tempo e brindou-nos logo com este cartoon:

Apesar da taxa de câmbio exorbitante e de todos os custos e dificuldades associados a viagens ao exterior, os voos de Luanda para Lisboa continuam cheios, não obstante os preços triplicarem. E apesar de estar cada vez mais cara, Lisboa continua a ser um destino delicioso. O tal “paraíso” a que se refere Sérgio Piçarra no seu cartoon provocador continua a elevar-se no que toca a restauração…há sim saúde, educação, servicos básicos, e também uma crescente variedade de excelentíssimos restaurantes.
Neste artigo, partilhamos 8 lugares em Lisboa (e Cascais!) que nos fazem pensar em seguir o exemplo de certos peregrinos…
Taberna da Rua das Flores



Que lugar nostálgico e acolhedor. Tem apenas umas 10 mesinhas – o restaurante é minúsculo – mas o que carece em espaço, tem em personalidade e qualidade. A Taberna da Rua das Flores faz lembrar as tascas que proliferavam por Lisboa antes deste boom turístico, e os petiscos e pratos tradicionais do chef André Magalhães são receitas ‘antigas’ que não deixam de ser saborosas e muito bem confeccionadas, sem floreados desnecessários. O menu é escrito à giz num único quadro, que é transportado (e explicado) de mesa em mesa a medida que chegam novos clientes.
Nenhum prato custa mais de 20 Euros; a maka é conseguires um lugar, pois a Taberna não aceita reservas e está sempre cheia. Na última vez que lá estivemos, com a nossa incrível sorte de gulosos, conseguimos dois lugares perto da hora de fecho sem termos de esperar na fila já inexistente.
tberna.com
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Prado



No Prado, os olhos comem tanto quanto o estômago. Antes mesmo dos pratos chegarem à mesa, deliciamo-nos com a beleza deste espaço muito bem decorado, com um pé direito altíssimo (era uma antiga fábrica de enlatados), muito verde e muita luz natural. E os pratos do chef António Galapito? Para terem uma ideia, o menu do Prado começa com as seguintes linhas: “O Prado celebra o melhor que Portugal tem para oferecer, da terra ao mar. Os nossos pratos são baseados em ingredientes nacionais, sazonais e frescos. Se não for da época, não vai à mesa.” Estão situados?
O menu combina petiscos e pratos mais robustos, todos eles com combinações fora do comum, e todos eles com ingredientes 100% portugueses; a lista de vinhos é extensa e destaca vinhos orgânicos e biodinâmicos de várias partes do mundo. Recomendamos que façam reserva, tal é a popularidade deste restaurante…
pradorestaurante.com
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Sala de Corte



O nosso namoro com a Sala de Corte já dura vários anos; sempre que aterramos em Lisboa, é dos primeiros restaurantes que visitamos. E pelos vistos não somos os únicos apaixonados: na lista dos World’s 101 Best Steak Restaurants, está na posição 34. Três factores fundamentais fazem-nos apreciar, e de que maneira, uma refeição na Sala de Corte: a qualidade da carne, proveniente na sua maioria da Península Ibérica e maturada no próprio local; o facto desta carne ser grelhada num Josper, uma ferramenta única que combina grelha com forno, e, por fim, o interior design moderno e elegante.
A cozinha da Sala de Corte é comandada pelo Chef Luís Gaspar; para veres a equipa em acção, recomendamos que peças um lugar ao balcão, mesmo ao pé dos fornos. Não te preocupes, pois não vais levar com fumo – tal é a tecnologia dos Jospers. E não fiques apenas pelas carnes: faz bom uso dos cocktails, da carta de vinhos e das sobremesas.
saladecorte.pt
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Dahlia



Adoramos a forma como o Dahlia se define: um listening bar que serve boa comida e bom vinho. É que uma das principais atrações deste espaço no Cais de Sodré é o seu excelente sistema de som e o gosto musical da equipa – são centenas de vinis por trás do balcão – e o sócio-gerente, o britânico Adam Purnell, inspirou-se nos listening bars de Tóquio, onde são muito comuns. Nós não sabíamos disso quando lá fomos e metemos conversa com o Adam, tendo-nos apercebido logo na qualidade de som fora do comum.
Mas o que nos fez regressar foi mesmo a comida: o menu, elaborado pelo chef Mauricio Varela, é ecléctico, com combinações improváveis de ingredientes portugueses com inspirações de outras partes do mundo. E a lista de vinhos naturais é igualmente impressionante e uma parte imprescindível da experiência neste pequeníssimo spot lisboeta.
dahlialisboa.com
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Leonetta



Esta jóia no Príncipe Real é um poema de amor à gastronomia italiana. Excelentes aperitivos, massas frescas, queijos e vinhos italianos são a ordem do dia (e noite), e um dos melhores spots para saborear a rica oferta da casa é no aconchegante pátio interior deste restaurante. Apesar de estar localizado numa das zonas mais procuradas e mais caras da capital portuguesa, achamos os preços e as porções razoáveis. A cozinha italiana bem feita é conhecida pela sua simplicidade e pelo respeito ao produto, e a Leonetta não foge a regra.
Devido ao seu ambiente alegre e convidativo, é comum vermos filas na entrada deste espaço; sugerimos que faças uma reserva ou que vais logo na abertura do serviço do almoço ou jantar. Vale a pena!
Rosamar



Vizinho do Leonetta e pertencente aos mesmos donos (que detêm também o Javá Rooftop e o Farès, espaços que merecem a vossa visita) o Rosamar é um templo ao peixe e ao marisco. A sala de jantar é enorme e bastante luminosa, e há lugares adicionais no pátio e no bar do restaurante; mesmo assim, não houve uma única vez que aqui fomos e encontramos o restaurante vazio. Antes pelo contrário.
Os requintados sabores do variado e diversificado menu do Rosamar retêm influências de vários cantos do mundo; este não é, nem de perto nem de longe, um dos clássicos restaurantes de marisco que vemos espalhados por grande Lisboa. A vibe aqui é totalmente outra, e a clientela cosmopolita também. Recomendamos uma visita com tempo, pois para além dos pratos, os cocktails tambêm merecem um estudo profundo.
Boi Cavalo



Restaurantes como este, em que o menu é sazonal e meio que efémero e o chef (neste caso, Hugo Brito) tem total liberdade para nos servir o que bem lhe apetece, desde que fresco e saboroso, são dos nossos preferidos. O Boi Cavalo é exatamente isso. “A cozinha de Lisboa reinventada, num antigo talho em Alfama,” descreve-se o espaço. Os pratos aqui são inesperados e surpreendentes, e mudam com alguma frequência; os vinhos, a maioria deles naturais ou de pequenos produtores, também.
Sendo assim, o Boi Cavalo é daqueles sítios para ir mais do que uma vez durante as férias, para ver se conseguimos comer e beber mais uma combinação de sabores e texturas totalmente fora do comum mas deliciosas, que espelham o que é comer em Lisboa em 2023.
boi-cavalo.pt
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Kappo




Sim, é verdade que o Kappo não fica em Lisboa. Mas Cascais é mesmo lá ao pé (40 minutos, ou seja, centro de Luanda à Talatona com algum trânsito) e a viagem vale a pena, pois este é um dos melhores restaurantes japoneses que já visitamos em Portugal. A melhor forma de usufruir da cozinha subtil e tradicional do Chef Tiago Penão, um verdadeiro estudante da gastronomia japonesa, é sentando no balcão e pedindo o Menu Omakase, que significa, em português, “escolha do chef”. É uma das sugestões mais caras deste artigo (o Menu Omakase custa 110 Euros ao jantar), mas para os verdadeiros amantes da cozinha tradicional japonesa, é um valor que compensa.
Tal é a qualidade do Kappo que o mesmo já faz parte do Guia Michelin para a região de Lisboa, e para teres a experiência ao balcão, é semper melhor fazeres uma reserva.