Restaurante da Pousada Calandula

Há poucos lugares assim no mundo: uma pousada de caras com as segundas maiores quedas do continente africano, rodeada de uma paisagem deslumbrante, onde os nossos olhos não conseguem parar de encarar a força da natureza. É uma beleza difícil de descrever. Erguida na década de 1950 e chamada de Pousada das Quedas do Duque de Bragança, como eram conhecidas no tempo colonial, este local foi prontamente abandonado cerca de 20 anos depois, com o advento da independência angolana. Ficou em estado de degradação total desde então (a guerra civil não ajudou, pois claro), e quem visitasse as quedas via apenas os escombros da pousada na margem oposta.

Finalmente, em 2017, um empresário corajoso decide pôr mãos à obra e reabilita não só a pousada como 500 hectares à volta da mesma para os dedicar à agricultura. A Pousada Calandula tem funcionado desde então, quase exclusivamente aos fins de semana e feriados, e continua a expandir.

Porém, infelizmente, a pousada precisa de melhorias urgentes no serviço prestado, no atendimento, e na sua relação preço-qualidade, para fazer jus ao seu potencial. Explicaremos porquê.

Um almoço no prolongado

A nossa mais recente visita à Pousada Calandula foi durante a última semana de Março. Para aproveitar o prolongado, várias famílias luandenses e não só fizeram um teste rápido e deslocaram-se à Malanje e arredores; a pousada estava, por isso, bastante movimentada. A viagem da cidade de Malanje à pousada faz-se em pouco mais de uma hora, e ainda chegamos dentro do horário do almoço. 

O primeiro sinal de que as coisas não correriam tão bem foi termos visto um aglomerado na zona do bar, à entrada do restaurante; percebemos que este é o único ponto de pagamento. Observamos o pequeno caos e pudemos perceber que o lugar estava com uma equipa bastante reduzida tendo em conta a demanda. Respiramos fundo e mantivemos a paciência – afinal estamos em pandemia e é possível que tivesse havido uma redução propositada do staff. Ou não…porque não se percebe termos 3 ou 4 garçons para cerca de 40 pessoas.

Após algum tempo de espera, lá conseguimos a atenção de um dos garçons e dissemos que gostaríamos de almoçar. “Qual o preço do buffet?”, perguntamos. A resposta: “Não sei, tivemos uma actualização recente. Apenas o colega do caixa é que sabe.” Perplexos, perguntamos a um outro colega e a resposta foi a mesma: “Actualização recente, só o colega do caixa sabe”.  Perguntar ao caixa estava fora de questão, visto que o mesmo lidava com um grupo considerável de pessoas a tentar pagar a sua refeição. 

Famintos e hipnotizados pela vista, decidimos arriscar e comer sem saber o preço do buffet. Sentamo-nos para almoçar e esperamos largos minutos para a mesa ser limpa e arrumada (ainda haviam pratos sujos dos clientes anteriores). A oferta, apesar de recheada, não era nada por aí além: feijoada transmontana, calulu, BBQ wings, picanha grelhada, coisas do género. Rapidamente percebemos que o serviço seria extremamente demorado: a água e cerveja apenas vieram perto do fim da nossa refeição, o pedido de capirinha foi rejeitado pelo garçon porque dizia não ter tempo para confeccionar, e o gin tónico teve de ser preparado por nós mesmo na mesa (o garçon conseguiu trazer a lata de água tónica e uma garrafa de Havelock). A espera pelo café foi tanta que decidimos abandonar a mesa e esperar por ele já na relvado do hotel; aí pelo menos podíamos fingir que estávamos num picnic.

Foi quando pedimos a conta que tivemos a verdadeira surpresa: o buffet custava 25.000 AKZ por pessoa. O gin que preparamos à mesa dada a indisponibilidade do staff custou-nos 4.000 AKZ. A EKA, em lata, 1.000. A conta que pagamos foi folgadamente suprerior às diárias do hotel na cidade de Malanje onde nos hospedamos. Pela primeira vez no nosso país, sentimos que estivemos num tourist trap…saímos de lá com um sentimento de que fomos roubados.

Temos perfeita noção do país onde vivemos e do investimento que deve ter sido reabilitar este hotel. Temos perfeita noção das estradas e da fraca distribuição de bens alimentares nas províncias (apesar de Malanje ser bastante rica na agricultura, com preços acessíveis). Temos consciência que os custos de manutenção do hotel não devem ser poucos. Não percebemos é a relação preço-qualidade deste restaurante tendo em vista o serviço, a preparação do staff, a comida em si, e o facto de ninguém nos conseguir dizer o preço do buffet até a hora de pagarmos, sendo que o preço não estar afixado em lado nenhum. E aqui temos de salientar o nosso erro: não solicitamos o Livro de Reclamações para escrever precisamente isto.  

Biossegurança

Dada a nova realidade, a Pousada Calandula cumpre com a maioria das normas estabelecidas: álcool-gel à porta, garçons com máscaras e distanciamento entre as mesas.

Considerações finais

Sugestões não faltam, até pelo tom exasperado que vimos nas reclamações de outros clientes naquela tarde. É necessário melhor treino de equipa, é necessário melhor gestão operacional para lidar com enchentes (que não são poucas, dado o valor atractivo do local), e é mesmo necessário a afixação dos preços praticados no estabelecimento. Porque a Pousada tem tudo pra dar certo e ser um local de visitas recorrentes e sucessivas.

Contactos

Tel: 923 300 543
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