A internacionalização de Catumbela pela Fly Angola: Vantagens, oportunidades e desafios

Por Cláudio Silva, sócio-gerente do LNL

Doze anos após a sua inauguração, o Aeroporto Internacional Paulo Teixeira Jorge, também conhecido como Aeroporto da Catumbela, recebeu finalmente o certificado internacional ICA07, que lhe permite operar voos internacionais. É, actualmente, o único aeroporto fora de Luanda com esta certificação. A primeira empresa a aproveitar esta nova realidade é a Fly Angola, que inaugurará, no dia 21 de dezembro, a nova rota Benguela-Windhoek. Trata-se de uma rota inédita.

As ligações entre a população do centro-sul de Angola e a Namíbia são profundas, por motivos que explicaremos mais adiante. No entanto, desde que a TAAG suspendeu a rota Luanda-Lubango-Windhoek em 2016, deixou de existir qualquer ligação aérea entre estas regiões. Como consequência, os passageiros passaram a ter de se deslocar a Luanda para poderem apanhar o avião para Windhoek. Durante este período, a Air Namibia, a única outra operadora que estabelecia a ligação entre Luanda e Windhoek, foi liquidada e cessou a sua actividade, conferindo assim à TAAG o monopólio deste mercado.

A abertura da rota Benguela-Windhoek, que na realidade é Luanda-Benguela-Windhoek, vem, assim, restabelecer a ligação direta entre o centro-sul de Angola e a Namíbia, bem como proporcionar maior competitividade à rota Angola-Namíbia e mais opções para os passageiros.

A forte conexão com a Namíbia

As relações históricas, comerciais, económicas e políticas entre Angola e a Namíbia são sólidas. Em 2022, a embaixada angolana em Windhoek estimou que cerca de 100.000 angolanos residem na Namíbia. Anualmente, milhares de angolanos deslocam-se a este país por motivos de comércio, compras, educação, turismo e saúde.

Na Namíbia, os angolanos têm acesso a estabelecimentos de ensino, clínicas, hospitais e produtos de melhor qualidade, a preços mais reduzidos do que os praticados em Angola. E viajam horas e horas de carro para os obter (de Benguela a Windhoek são aproximadamente 19 horas, sem contar com o tempo de espera na fronteira), ou optam por viajar de avião, tendo de enfrentar uma escala inconveniente em Luanda. A nova rota da Fly Angola muda este paradigma.

Do centro-sul de Angola para a SADC e Europa

As principais cidades do centro-sul de Angola — Huambo, Lubango, e Moçâmedes — estão todas a cerca de 5 a 6 horas do Aeroporto da Catumbela. Os habitantes destas cidades fazem parte do potencial mercado desta nova rota. Postos em Windhoek, têm a possibilidade de prosseguir viagem (via voos directos) para outros destinos regionais, como Botswana, África do Sul, Zimbabwe (Victoria Falls) ou mesmo a Europa: a Discover Airlines voa todos os dias para Frankfurt.

A título de exemplo, às sextas-feiras o voo da Fly Angola aterra em Windhoek por volta das 12:40, e o voo da Discover Airlines com destino a Frankfurt parte no mesmo dia às 19:55. Cidadãos angolanos não precisam de visto para entrar na Namíbia, o que significa que o tempo de escala permite uma escapadela ao centro de Windhoek para uma refeição num dos vários excelentes restaurantes da cidade e um passeio alongado por ela. A ligação Benguela-Windhoek abre novos horizontes para o público da região sul e quebra a dependência a Luanda.

Novas oportunidades para o sector turístico de Benguela e arredores

Apesar da inexistência de dados fidedignos sobre o número de turistas namibianos em Angola, a sua presença é notória em cidades como o Lubango. A abertura da rota Benguela-Windhoek oferece um novo destino para turistas namibianos interessados em conhecer outra região do país, sendo a oferta turística de Benguela suficientemente atrativa para os cativar. Todavia, o setor empresarial hoteleiro em Benguela enfrenta agora o desafio de se preparar adequadamente para este novo fluxo; o investimento na formação, no inglês e na qualidade do serviço é fundamental.

As oportunidades estendem-se também ao próprio Aeroporto da Catumbela. Quando bem aproveitada, a abertura de uma nova rota constitui sempre um motivo para maior rentabilidade do aeroporto, que estava habituado a receber apenas um voo diário e sempre do mesmo destino. Os aeroportos, afinal, são também negócios, e os negócios necessitam de receitas. Esta rota representa uma fonte das mesmas.

A porta de entrada do Corredor do Lobito

Lobito gosta de apelidar-se como a “sala de visitas de Angola”. Ficava estranho uma sala de visitas não ter um aeroporto internacional para receber os seus convidados. Muito se tem falado sobre o Corredor do Lobito e o seu potencial, e certamente não nos vamos alongar sobre este tema no LNL, mas é imperativo que as empresas e stakeholders locais, regionais e internacionais com interesses comprovados no Corredor do Lobito tenham uma infraestrutura aeroportuária com certificado internacional que os conecta ao mundo.

Esta nova rota da Fly Angola é apenas um começo; há muito mais para desenvolver. Mas antes, é necessário fazer o trabalho de casa: melhorar o ambiente de negócios, modernizar as infraestruturas e capacitar o capital humano local para que possamos começar a concretizar todo o potencial desta região.

A internacionalização do Aeroporto Paulo Teixeira Jorge é um dos primeiros passos.

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