Amigos, vamos a um brunch?

Um artigo de opinião 

Como já se devem ter apercebido, há uma “febre” na cidade de novos restaurantes de brunch.  

Em menos de 1 ano abriu uma variedade de restaurantes com este conceito: espaços modernos e com menus variados, que nos dão uma lufada de ar fresco ao cenário da restauração Luandense. Finalmente sentimos que a nossa cidade dá-nos mais opções de alimentação.

Mas esperem… temos mesmo mais opções ou é uma falsa ilusão? 

Todos estes espaços têm algo em comum: são de jovens empreendedores que estão a abrir estes negócios baseando-se em conceitos internacionais a serem aplicados à nossa realidade. O conceito de brunch, apesar de ser uma refeição originalmente inglesa[1], encaixa perfeitamente com a nossa cultura. No fundo junta-se a fome com a vontade de comer. Literalmente. 

Jacie’s Place, Okupuyuka, Leaf by Dear Mr. Breakfast, A Biológica, Ceano, são alguns dos nomes que surgiram no mercado, sendo ou não 100% direcionados para este conceito. Desde pratos veganos ao english breakfast, o que não falta são opções de comida para nos deliciarmos. O que falta é o equilíbrio entre a boa comida e o serviço.  Um conceito que é bom e rentável, peca muitas vezes por falta de organização. 

Desde a demora no atendimento à falta de items no menu, o que é suposto ser uma experiência dedicada à gula pode-se tornar uma leve desilusão. 

Passamos por vários e experimentamos. E apercebemo-nos que continuamos a ouvir as respostas mais ouvidas na restauração em Luanda:  

Peço desculpas, mas já não temos”[2] – e só são 12h00 e vocês estão abertos até às 19h00. 

“O prato é composto de 5 ingredientes mas já só temos 3” – e o preço do prato mantem-se. 

“Devia ter chegado mais cedo” – é sério isto que me estão a dizer? 

 Jovens empreendedores: como são feitos os vossos planos de negócio? Vamos pensar juntos em 3 pontos críticos: 

1.     Localização/espaço: algo surpreendente nestes novos espaços é a decoração. São acolhedores, bonitos, decorados ao detalhe. Mas do que vale termos um espaço lindo se está sempre quente, não é arejado o suficiente ou tem moscas? 

2.     Menu: os menus são desenhados como obras de arte e até parecem saídos de qualquer restaurante com um par de estrelas Michelin. Mas de que vale termos um menu fantástico se não temos todos os items do menu? Se a comida não está saborosa ou é mal apresentada? 

3.     Foco do negócio: o que vocês realmente querem? Lucro durante 1 mês ou um negócio estável que vos vá gerar lucros a longo prazo? Que preços andamos a praticar? Não se fiem no benchmarking[3] do nosso mercado. Temos uma economia super inflacionada e com empresários que tiram taxas de 600% de lucro. Quanto mais, aprendam com eles que essa prática é errada! 

Em todos os espaços onde estivemos os donos estavam lá, sem excepção. A garantir que os seus cavalos engordam. Então como é que não vêm detalhes essenciais como estes?  

O iogurte acaba? O feijão acaba?

“Peço desculpas, mas já sabe como é o nosso mercado, não é?”

Jovens empreendedores: não se sintam julgados. Aliás, sintam-se positivamente criticados. O chamado “boca a boca” continua a ser o melhor marketing que existe. E quando temos falhas estruturais, pequenos detalhes fazem com que os vossos clientes não voltem. Ou que pulem para o mais novo restaurante que acabou de abrir, tem o mesmo conceito, mas que por ser melhor organizado consegue garantir o que vocês não conseguem. 

Por isso, aqui fica o que nós clientes queremos (se não for pedir muito, claro): 

·       Criem menus com produtos que conseguem garantir no nosso mercado. É desagradável pedir algo e dizerem-nos “de momento não temos”. 

·       Metade dos vossos menus são à base de ovos. Perguntem-me como eu quero os meus ovos antes de me trazerem o prato. Não me tirem o prazer de molhar o pãozinho na gema semilíquida ao trazerem-me um ovo super cozido. 

·       Organizem a vossa logística. É inconcebível terminar um ingrediente de um prato a meio do dia – se não o conseguem garantir, retirem o prato do menu. 

·       Provem os sumos antes de os servirem. Nada pior que ver uma pessoa a contorcer-se por causa de um sumo de limão azedo. 

·       Trabalhem na apresentação dos vossos pratos – nós comemos com os olhos. 

Não esperem críticas para mudar. Antecipem-se. Pensem antes de agir. Organizem-se antes de abrirem um negócio. Sem passos maiores que as pernas.  

Ajudem-nos a garantir que vocês têm negócios lucrativos.

Enquanto nós enchemos as nossas barrigas de comida.

[1] Ler Brunch em Luanda: As escolhas do LNL 
[2] Ler: Restaurantes, Libertem-se!
[3] O benchmarking consiste na pesquisa e conhecimento profundo de quem são os concorrentes do sector e como eles trabalham.

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