Guia LNL: Onde ficar, onde comer e o que fazer em Malanje

Em termos de beleza natural, poucas províncias neste país podem ombrear com Malanje. Esta terra mágica, de paisagens exuberantes e vistas imperdíveis, sede dos antigos reinos da Matamba e do Ndongo, lugar de mitos e histórias mil, é um dos melhores destinos turísticos no país.

A cidade de Malanje, por si só, não tem muito para oferecer. É, isso sim, o ponto de partida para uma mão-cheia de ricas atrações, todas a uma hora ou menos de distância de carro: os Rápidos do Kwanza, na fronteira com a província do Kwanza-Sul, a Praia do Kwanza, mesmo ao pé dos Rápidos, as Pedras Negras de Pungo Andongo e a Pegada da Rainha Njinga, e, um pouco mais longe, as lindas Quedas de Musseleje.

O que a cidade não oferece, o campo sim, aos montes. É por isso que, quando cá vimos, gostamos de ficar alojados no município de Cacuso, lá no meio da Fazenda Terras do Koló, onde está situado o Kahombo Resort Rural. É o melhor hotel da província e um dos melhores do país.

Este guia, o único de que precisas, ajuda-te a explorar o melhor deste que é um dos nossos destinos turísticos preferidos.

Navegação

A melhor altura para ir
Como chegar
Como se locomover
Os melhores hotéis e restaurantes
O que fazer
Dicas adicionais

A melhor altura para ir

Não existe uma má altura para ir a Malanje. Tendo dito isto, há certas atrações naturais que têm muito mais piada na época das chuvas, como as Quedas de Kalandula e os Rápidos do Kwanza; por outra, o caminho desafiante para as Quedas de Musseleje, por exemplo, é mais acessível na época seca.

A cidade de Malanje fica mais concorrida por altura das Festas da Cidade, no dia 13 de Fevereiro, e durante os prolongados.

Como chegar

Avião: Apesar do Aeroporto de Malanje ter sido reabilitado em 2008 e reaberto ao tráfego doméstico em 2010, e não obstante os esforços da Sonair e da TAAG para rentabilizar a rota Luanda-Malanje em algumas ocasiões desde então, a realidade é que esta ligação não se revela economicamente viável. Como resultado, não existem atualmente voos comerciais com destino a Malanje.

Autocarro: A melhores empresa a ligar Malanje com diversos pontos do país, principalmente Luanda, N’dalatando, Saurimo e Dundo, é a Macon. Já viajamos diversas vezes pela Macon e podemos confirmar a sua utilidade; a viagem dura aproximadamente 6 horas. Na altura em que escrevemos estas linhas (24 de Outubro 2024), a Macon tem 5 autocarros por dia no sentido Luanda-Malanje. Há também diversos mini-autocarros a ligar Luanda, N’dalatando e Malanje.

Carro próprio: Num dos nossos artigos preferidos do Maka Angola, o autor do site, Rafael Marques de Morais, natural de Malanje, escreve o seguinte:

A via Luanda-Malanje é uma das duas principais rotas comerciais e de turismo de Angola. Constitui a rodoviária de ligação do leste (região diamantífera) à capital. Quem fala dessa via, fala das estradas em todo o território, que espelham o atraso do país, a falácia da promoção do turismo e o grave problema do escoamento da produção agrícola de muitas zonas do país.

É difícil aferir, para já, quantos quilómetros de estrada asfaltada se perderam, nos últimos anos, por má qualidade das obras, do asfalto e dos elementos de terraplanagem, assim como por falta de fiscalização efectiva e de manutenção. Malanje é a província que oferece mais atracções turísticas naturais num raio de cem quilómetros, destacando-se as Pedras Negras de Pungo-Andongo, cujo acesso é cada vez mais limitado devido ao péssimo estado da estrada; as Quedas de Kalandula, a Cascata de Musseleji e os Rápidos do Kwanza.

Fala-se muito na promoção do turismo angolano, mas a verdade é que nem sequer se consegue assegurar a qualidade e manutenção da estrada para a província com o maior potencial turístico do país.

Está tudo dito.

Actualmente, o trajecto centro de Luanda – centro de Malanje, pela Estrada de Catete (EN120) demora cerca de 5 a 6 horas, fora da hora de ponta. É um trajecto de cerca de 380 km que, com boas estradas, faz-se em pouco mais de 3 horas.

Não pretendemos com isto menosprezar uma visita a Malanje, que consideramos imprescindível para qualquer pessoa apaixonada pelas belezas naturais deste país; apenas queremos ser realistas. A viagem pode ser feita com qualquer tipo de carro; contudo, não se realiza de forma célere, pois é necessário abrandar frequentemente em várias zonas devido aos buracos na estrada. O troço da Maria Teresa, próximo da fronteira entre o Bengo e o Kwanza-Norte, é um dos piores.

A outra opção é ir via o Dondo, passando depois pela Barragem da Capanda, mas este troço está assustadoramente degradado e não recomendamos de todo. Não cometas o mesmo erro que nós!

Comboio: No passado dia 16 de outubro de 2024, a RNA noticiou que o Caminho de Ferro de Luanda (CFL) retomou a circulação de carga entre Luanda, Kwanza-Norte e Malanje, uma linha que sofre interrupções frequentes. No entanto, o transporte de passageiros de Luanda para Malanje continua interdito.

Tentámos obter mais informações através dos números de telefone disponíveis no site oficial do CFL, uma vez que esta viagem está na nossa lista de experiências a realizar. Infelizmente, nenhum dos contactos estava disponível. Típico.

Como se locomover

Ao contrário de cidades como Benguela e Lubango, que já dispõem de serviços de táxi privados, incluindo o Heetch, a melhor forma de se deslocar por Malanje e as suas atrações turísticas é mesmo através de viatura própria. Não tem como. Com o teu próprio veículo, torna-se muito mais fácil visitares as principais belezas da província, a maioria das quais se encontra num raio de cem quilómetros do centro da cidade.

Infelizmente, a cidade de Malanje em si não oferece muito…

Os melhores hotéis e restaurantes

Apesar do seu brilhante potencial turístico, a oferta hoteleira da cidade de Malanje não é nada por aí além. Quanto a restaurantes recomendáveis fora dos hotéis, a situação não é muito diferente. O que podemos sim afirmar, sem medo de errar, é que o melhor hotel na província de Malanje, e o melhor sítio para se comer por estes lados, encontra-se fora da cidade, no coração do município do Cacuso.

Kahombo Resort Rural (hotel e restaurante)

Em termos de infraestrutura hoteleira, serviço e experiência, o Kahombo Resort é atualmente o melhor estabelecimento na província de Malanje, e um dos melhores a nível nacional. Constitui a base ideal para explorar as principais atrações turísticas da província, sendo um local perfeito para recarregar energias.

O restaurante do Kahombo é um destaque da estadia. Num país onde as refeições frequentemente decepcionam, foi gratificante desfrutar de um pequeno-almoço com produtos locais, muitos da própria fazenda, e sumos naturais de frutas regionais.

Almoços e jantares são excelentes, especialmente a carne grelhada e pratos tradicionais angolanos. As sobremesas também se destacaram. Há várias opções de bebidas, incluindo vinho angolano (Vale do Bero, do Namibe) e aguardente de milho Das Ponteiras, produzida localmente.

Fazenda Terras do Koló, Cacuso
Tel: +244 932 757 876
reservas@kahomboresort.com | hotel.manager@kahomboresort.com
Kahombo Resort

Portvgália (hotel e restaurante)

Queríamos muito gostar do Portvgália. Os quartos são espaçosos, elegantes e bem decorados. Têm uma certa personalidade. Como se não bastasse, o hotel está localizado mesmo no centro da cidade, e ainda inclui um restaurante, uma pastelaria e uma geladaria. Mas o Portvgália não nos deixa gostar dele. Porque em termos de serviço e atendimento, deixa muito, mas muito a desejar. É mesmo necessário um grande investimento nos recursos humanos deste lugar.

Se estiveres em modo Zen, com total domínio do teu ser e do teu temperamento, e não queres enfrentar a picada para chegares ao Kahombo, aproveita a localização urbana do Portvgália e do conforto das suas camas. Mas durante o caminho, vai ligando à recepção para assegurar mesmo que a tua reserva está confirmada. Sim, já nos aconteceu – falamos por experiência própria. Boa sorte!

Avenida Miguel Bombarda, Malanje
Tel: +244 935 714 668
Email: info@hotelportugalia.com

Hotel Palanca Negra

Este é o edifício mais alto na cidade de Malanje e a vista que oferece é magnifíca. Contudo, peca pela construção chinesa, o layout dos espaçosos quartos (não têm secretária/lugar para escrever, e uma das paredes das casas de banho é de vidro totalmente transparente), pela fraca qualidade da comida e pelo barulho da discoteca aos fins de semana. Mas os funcionários são simpáticos e é uma das únicas opções viáveis no centro da cidade.

EN 140, Malanje (ao pé do Hospital Geral de Malanje)
Tel: +244 928 908 036

Pousada de Calandula (hotel e restaurante)

Existem poucos lugares no mundo como este: uma pousada da época colonial situada em frente às segundas maiores quedas do continente africano, envolta por uma paisagem deslumbrante, onde os nossos olhos não conseguem deixar de contemplar a força da natureza. É uma beleza que transcende qualquer descrição.

Esta pousada histórica dispõe de apenas sete suítes, mas também oferece a opção de acampar no seu terreno. O único inconveniente é que os preços são muito elevados, o acesso é precário (as tais estradas), e o serviço ainda não está ao nível desejado, embora os nossos leitores nos tenham informado que, gradualmente, tudo está a melhorar (menos o acesso).

Tel: +244 923 300 543
Pousada Calandula no Facebook

O Quintal (restaurante)

Localizado no coração da cidade, numa antiga vivenda, O Quintal destaca-se como o melhor restaurante local e um dos poucos não associados a nenhuma unidade hoteleira. Trata-se de um estabelecimento simples e despretensioso, que oferece um menu modesto, mas variado. O espaço conta com uma agradável esplanada e uma acolhedora sala de jantar interior.

Rua Sacadora Cabral, Malanje
Tel: +244 948 088 348
Mapa

O que fazer

Uma excursão às Quedas de Calandula

Com 105 metros de altura e 410 metros de extensão, as Quedas de Calandula, do Rio Lucala, são as segundas maiores do continente africano, superadas apenas pelas Quedas de Vitória, na fronteira do Zimbabué com a Zâmbia.

A vastidão das águas a precipitar-se pelas escarpas rochosas, rodeada por vegetação luxuriante, cria uma paisagem de cortar a respiração. É um local ideal para quem procura uma ligação com a natureza no seu estado mais puro, longe do bulício das cidades. O miradouro é deslumbrante, e os jovens que lá trabalham não hesitarão em levar-te pela trilha abaixo para molhares os pés no rio e contemplares a imensidão das quedas. No entanto, a melhor vista é mesmo a do outro lado da margem, na Pousada de Calandula.

Piquenique nas Quedas de Musseleje

Nestas quedas lindas, as águas caem em cascata, criando pequenas piscinas naturais rodeadas por uma vegetação que parece intocada. É uma verdadeira jóia escondida.

Se colocares estas quedas no Google Maps, notarás que o Google as encontra, mas não consegue decifrar o caminho para lá chegar. Não há problema. Os jovens guias nas Quedas de Calandula conhecem e podem indicar o caminho, bem como os habitantes das redondezas. Em última instância, o ponto no Google Maps pode funcionar como orientação: a estrada para lá chegar é um mero trilho onde só cabe um carro de cada vez, mas é visível no Maps em modo satélite. Vale muito a pena a visita, e até podes tomar banho por baixo das quedas…Para parabenizares-te pelo esforço, leva comida e faz um piquenique ali mesmo.

Contemplar o mistério das Pedras Negras de Pungo Andongo e a pegada da Rainha Nzinga

Este monumento natural impressionante é composto por formações rochosas gigantescas que se erguem no meio da paisagem como sentinelas de pedra. As Pedras Negras de Pungo Andongo não são apenas uma maravilha geológica, mas também um local repleto de história e mitologia. Conta-se que foram o refúgio da Rainha Nzinga durante a sua luta contra os colonizadores. Não te esqueças de visitar as famosas pegadas da Rainha, que estão gravadas numa das pedras ali perto e que alimentam o misticismo em torno deste lugar único. A energia aqui é diferente…

Uma peregrinação à Missão do Quéssua

Foto de Graciana Baptista

Fundada por missionários no final do século XIX, a Missão do Quéssua é um testemunho do passado colonial de Angola e do papel da religião na educação e saúde da região. Este complexo histórico, localizado a poucos quilómetros da cidade de Malanje, conta com igrejas, escolas e um hospital que ainda hoje servem a comunidade local. A arquitetura colonial e o ambiente pacato fazem deste lugar uma viagem no tempo, onde se pode refletir sobre a história e o impacto que a missão teve na vida dos malanjinos.

Um shot de adrenalina nos Rápidos do Kwanza

Para os amantes de aventura, os Rápidos do Kwanza são uma paragem obrigatória. Este é um local onde o poderoso Rio Kwanza revela a sua força em correntes impetuosas, ideais para quem aprecia adrenalina ou simplesmente deseja contemplar a natureza selvagem de perto. E tem mais: a vegetação circundante oferece refúgio a diversas espécies de aves, tornando o lugar um pequeno paraíso para os entusiastas de birdwatching.

Banho de sol na Prainha do Rio Kwanza

Se preferes um dia mais tranquilo, a Praia Fluvial do Kwanza, mesmo ali ao lado dos Rápidos, é o refúgio ideal. Nas margens do Rio Kwanza, esta praia oferece uma atmosfera serena e relaxante, perfeita para piqueniques ou banhos de sol. Durante a época seca, o rio forma pequenas lagoas naturais, onde podes dar um mergulho refrescante e desfrutar da tranquilidade.

Este local é ideal para famílias e grupos de amigos que procuram um ambiente pacífico. Aqui, a calma e o sossego reinam, proporcionando uma experiência verdadeiramente revigorante longe do bulício da cidade. É um dos locais preferidos dos malanjinos.

Visitar o Centro Botânico do Kilombo, em N’dalatando, onde está a antiga casa de repouso de Agostinho Neto

A pacata cidade de N’dalatando é passagem obrigatória para quem faz o trajeto Luanda-Malanje. Há quem pare, há quem não, mas nós até gostamos de passar aqui umas horas ou mesmo uma noite! Durante o dia, vale a pena visitar o Centro Botânico do Kilombo que, apesar de degradado e de ser uma sombra do que já foi, é um raro lembrete de que é possível termos parques verdes a poucos quilómetros dos nossos centros urbanos. Lindamente descrito por Pedro Cardoso neste guia do extinto Rede Angola, este Centro Botânico alberga também o que resta da casa de repouso de Agostinho Neto – um dos seus refúgios prediletos.

Se optares por pernoitar em N’dalatando, a melhor escolha é, sem dúvida, o Terminus local. Dispõe de piscina, ginásio, camas confortáveis e um excelente restaurante.

Dicas adicionais

  • Ideal para os entusiastas do ecoturismo, a Reserva Natural Integral do Luando é uma das mais importantes áreas de conservação em Angola, dedicada especialmente à preservação da Palanca Negra Gigante. Embora o acesso seja controlado e as visitas limitadas para proteger esta espécie rara, uma excursão organizada pode proporcionar um contacto único com a vida selvagem angolana.
  • Para os amantes da aventura e das vistas panorâmicas, o Morro do Bongo é um destino excelente. Este pico imponente oferece trilhos que desafiam os mais aventureiros, sendo o esforço da subida recompensado por vistas deslumbrantes sobre a paisagem circundante de Malanje. É também um local ideal para a prática de caminhadas e fotografia.

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